Como saber se seu filho sofre bullying? E como reagir?

*Texto que escrevi originalmente para o site Rodacotia.

 

Eu havia acabado de dar uma palestra para 200 adolescentes em um auditório. O tema era pesado: bullying. Entretanto, a reação foi muito boa. Todos os estudantes pareciam estar bem cientes do quanto é grave praticar esta violência. Quando os jovens se dirigiam à porta, uma menina disse que queria falar comigo.

– Eu sofri muito bullying ano passado, quando estudava em outro colégio.

– E aí, o que você fez? – perguntei, curiosa.

– Falei com meus professores.

– Você fez o correto.

– Mas eles só pioraram o problema. A diretora foi na minha sala de aula e disse, na frente de todo mundo, que era para todos serem meus amigos e não me zoarem. Mas aí sim é que a coisa ficou pior. Então eu me escondia ainda mais e pedi para meus pais me mudarem de escola.

– E você nunca abriu o jogo com os seus pais?

– Não…já pensou se eles piorassem esse problema, como os professores fizeram?

Bullying é crime. Essa violência escolar é delicada de se resolver, porque trata-se de menores de idade destruindo a autoestima uns dos outros. Já vimos várias vezes a mídia divulgando casos severos que terminaram em suicídio. E muita gente insiste em dizer que o bullying é um “ritual de passagem normal e até saudável para crianças e adolescentes”. Mentira.

Bullying é uma aberração social altamente destrutiva, covarde e doentia. Eu sou uma vítima que se reergueu há pouco tempo das humilhações escolares. Só agora consegui apagar da minha testa a palavra “burra”. E é por isso que faço essa campanha a favor do respeito e da tolerância às diferenças.

Separei algumas dicas para pais e mães descobrirem se os filhos estão envolvidos em casos de bullying. Quem tem crianças e adolescentes em casa deve ficar atento aos seguintes comportamentos:

O filho/filha anda silencioso, desestimulado e arredio. Quando crianças e adolescentes recebem apelidos ofensivos, são humilhados por causa de alguma característica física ou de comportamento, são ameaçados ou excluídos, a tendência é se fecharem dentro de si e ficarem remoendo essa tristeza. Portanto, converse e abrace muito o seu filho, mostrando que o lar é um porto seguro em que ele pode se abrir sem medo.

O filho/filha inventa desculpas para não ir às aulas ou pede para trocar de colégio, sem motivos aparentes. Tudo bem que, dependendo do caso, se recusar a ir às aulas pode ser apenas preguiça. Mas é bom ficar atento quando este comportamento aparece de modo abrupto, sem contextualização e explicações. Vale a pena investigar se o estudante tem sido acuado, ameaçado ou alvo de fofocas. O jeito é conversar de modo despretensioso, sondando os detalhes.

O filho/filha faz comentários agressivos, sarcásticos e/ou destrutivos enquanto assiste televisão, navega na internet ou conversa com a família. Converse com ele para entender os motivos de tanta agressividade. Ele pode ser vítima ou estar agredindo outras pessoas na escola. É importante ressaltar para seu filho que todas as pessoas são diferentes e que o preconceito, homofobia e intolerância são comportamentos destrutivos que devem cessar.

O filho/filha chega da escola com o uniforme rasgado e sujo. Com machucados, arranhões ou hematomas. Tudo bem que os meninos gostam de brincar de lutinha e afins, mas é importante interpretar se aquilo foi resultado de uma brincadeira, de algum jogo da aula de educação física ou se ele anda brigando.

O filho/filha chega da escola com pertences que não são dele. Seja dinheiro, um brinquedo, uma caneta, uma borracha, um estojo. Não vai fazer mal nenhum perguntar onde foi que ele conseguiu ou se ganhou de alguém. Furtar material ou outros pertences é uma forma bem comum de bullying em todas as escolas.

Pais e mães, por favor: assim que o filho ou filha de vocês assumir que tem sido vítima de apelidos maldosos, fofocas, ameaças, exclusão, agressões ou humilhações, a primeira coisa que vocês tem que fazer é dar um abraço bem apertado na criança/adolescente e dizer que ele pode contar incondicionalmente com você! Não demonstre nervosismo excessivo ou falta de controle! Diga que você vai ajudá-lo a resolver da melhor maneira. Em seguida, converse com os professores da escola e reforce o quanto é importante ter discrição nesse momento.

Por outro lado, você pode ter também a desagradável surpresa em descobrir que seu filho tem humilhado e ameaçado os colegas. Geralmente, os bullies expressam com agressões uma tristeza com a qual eles não sabem lidar. Investigue isso com responsabilidade – não o recrimine com hostilidade, isso só vai piorar. Com sensibilidade e carinho, tente descobrir o que o leva a agir dessa maneira tão agressiva e sem empatia. Se preciso, consulte psicólogos e professores. É bem provável que ele tenha sofrido bullying e esta seja apenas uma reação. Ouvi muitos jovens dizendo que, quando são ofendidos, eles ofendem de volta para se sentirem melhor.

A maioria dos jovens tem vergonha de reproduzir os apelidos chatos que ganharam, as fofocas nas quais estão envolvidos e as humilhações que viveram, portanto, não force a barra. Pergunte gentilmente se ele tem vontade de visitar um psicólogo para ajudá-lo a contornar essa situação. Eu, quando era adolescente, fiz terapia e isso foi definitivo para que eu resgatasse a minha autoestima!

Se o seu filho tem perfil no twitter, facebook, instagram ou em outras redes sociais, acompanhe o que ele tem postado e os feedbacks que recebe. Da mesma forma que nos sentimos inseguros em deixar nossos filhos andarem sozinhos na rua, temos que temer também pelas “companhias” que aparecem na internet.

É bem importante também que os pais tenham uma relação de amizade e confiança com os professores, diretores e demais funcionários da escola. Eles são os principais aliados para lidar com a violência escolar. Outra coisa importante: seja amigo dos amigos do seu filho! Eles também podem ajudar na interpretação das atitudes dele. E lembre-se: o saudável é que as crianças e jovens tenham um comportamento alegre, colaborativo e sonhador. Qualquer atitude triste, desestimulada ou agressiva deve ser analisada mais de perto.

Sei que muitos colégios fecham os olhos para isso; abafam os casos e às vezes até pioram as situações, como narrei no começo deste texto. Mas é com a insistência e responsabilidade dos pais que vamos destacar a importância desta campanha!

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